quarta-feira, 20 de outubro de 2010

E quem ama só o bonito?

Diz o ditado que quem ama o feio, bonito lhe parece...
"As pessoas precisam entender que as crianças com necessidades especiais não estão doentes. Elas não procuram uma cura, apenas aceitação. Esta é a semana da educação especial. Noventa e três por cento das pessoas não vão copiar e colar este texto. Que tal fazer parte das sete por cento e...deixá-lo no seu mural por pelo menos, uma hora?"
Li isso no Facebook hoje. Foi enviado por alguém que disse que recebeu de outra pessoa. Não pensei duas vezes em repassar. Recebi depoimentos de mães de crianças especiais com a mesma sensação de alma lavada que senti.
Quem foi que falou em cura? É por esse conceito que somos desencorajados pelos médicos, abandonados por nossos amigos que não sabem o que dizer, que ficamos sozinhos. Ninguém sabe o que fazer com a gente quando não há "jeito", quando não há cura, nem uma maquiagem, nem uma mentirinha pra amenizar. Mas quem disse que não vamos amar o filho se ele não ficar diferente do que é ou igual a todo mundo? Quem disse que nosso filho é que é o doente?
É por essas que quando se fala em educação especial, em convívio com pessoas com necessidades especiais , eu fico sem sono. Minha cabeça não para de pensar em opções de apoio e mais apoio. E por quê?
Vamos pensar juntos. O desafio é grande! Como é que vamos falar em aceitação de pessoas com necessidades especiais se quando a ruga aparece mandamos um botox, se o peito cai, tome silicone, marido chato a gente troca, quem nos ameaça, eliminamos, quem envelhece, ignoramos? Não aceitamos nem a ação do tempo sobre nós! Não aceitamos nenhum tipo de frustração! Saiu fora do planejamento, fora!
Outro dia fui convidada a dar uma palestra sobre inclusão escolar numa cidade da região aqui de Ribeirão Preto. Expliquei que não tinha experiência no assunto, pois meu filho especial faleceu ainda bebê. Ainda assim fui. Cheguei lá e me deparei com algumas dúzias de professores indignados e se sentindo incompetentes e culpados.
A lei diz que não pode haver exclusão, a criança tem que ir pra escola. Com todo respeito quem fez essa lei nunca viu uma criança especial largadinha no pátio da escola. No mínimo os professores teriam que passar por alguns meses de treinamento e terapia. Existem mais de 6.000 síndromes genéticas, fora deficiências adquiridas em acidentes, por exemplo,  e cada uma exigindo quase que um tipo particular de cuidado. Aí queremos pegar essa realidade e “botar na escola” como se fosse assim...
É muito mais grave. Pra aceitar alguém diferente da gente é preciso se aceitar primeiro. Não há como conviver com quem a gente não conhece, com quem não trata como igual e respeita como diferente, com quem a gente olha e sente culpa." Puxa eu sou normal, super saudável  e ele não é...que mau, que vergonha, que mal-estar..."
Eu sei que a conversa com os professores só foi possível quando falei que seria lindo, perfeito se a gente, de cara, pudesse acolher uma criança que não sabe engolir e por isso baba, que usa sonda, que respira de modo a dar aflição, que não para quieta ou não sai do lugar. Que quem se sentia incomodado com isso, quem queria fugir dessa situação era humano, muito normal, mas precisávamos de mais. Mais porque tudo o que é importante na vida pede esforço e dedicação e isso quase nunca é fácil.
Precisávamos pensar se fosse o nosso filho,  nosso ente querido. Ainda assim seria difícil, mas mais uma vez precisávamos de mais treino, mais uma tentativa, até ver nos olhos dessa pessoa a gratidão pela mão estendida, nos olhos dos Pais o alívio de não estar mais sozinho. E dentro da gente, a alegria de ter vencido nossos próprios e tristes preconceitos.
Amigos, vamos dar passos rumo aos especiais, aos diferentes, no entanto, sem bandeiras de um “tudo bem, eu aceito”  que não é verdadeiro. Na maioria das vezes estamos aceitando algo que imaginamos que vai mudar e não vai. Não é fácil, mas precisamos insistir!! Vamos encarar o tamanho do desafio e lentamente. Não é fácil mas gratificante e possível se estivermos comprometidos em buscar compreensão e informação porque vencer essa batalha será muito mais do que ser politicamente correto ou a garantia de um lugar no céu, mas uma oportunidade única de aprendizado de valores válidos por uma vida toda.
Talvez a gente não tenha tido tempo ainda de verificar que TODOS nós somos diferentes. Que tal deixarmos que essas pessoas especiais nos ensinem isso! Talvez essa seja a NOSSA cura.
Vamos à mais essa luta. Se nos permitirmos refletir ela já está praticamente ganha!
Bjs pra vocês.
Marília

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